sexta-feira, maio 05, 2023

Monumento a Fabrice Miguet "MIG" 2022 França Normandia Chambois

Logo no primeiro contacto que tivemos, adiantámos a ideia de se realizar uma escultura de contornos realistas. Procurámos, então, a melhor forma de dar seguimento a essa ideia sem que fosse restringida a liberdade criativa dos autores. Sublinhamos, desde já, a abertura e apoio que a associação demonstrou, revelando uma grande sensibilidade em campos tão problemáticos como os que se prendem com a arte. A ideia de então será elaborar uma composição organizada com elementos colhidos do legado de Fabrice Miguet que no presente ano nos deixou, em terras Irlandesas, na sua última exibição. De imediato, consultámos todos os possíveis meios de informação à procura de qualquer tipo de elementos ou indícios que revelassem a presença de quaisquer “reminiscências” consideradas de maior relevo. Passámos vários dias nesta fase de investigação. E, bem cedo, chegámos à conclusão de que, se havia muitos momentos com várias referências poderosíssimas, por outro lado, também gostaríamos de remeter a escultura para um tom mais universal e não centrado apenas no universo das corridas de motociclismo. Aqui chegados, havia a necessidade imperativa de pôr em prática aquilo que mais tínhamos em mente, que de um modo muito especial e directo era: a eterna paixão da Humanidade pela vertigem da velocidade, ou seja, a luta contra o tempo.

Tínhamos encontrado um filão precioso e crucial para explorar na escultura e para consubstanciar a procura da "Alma" Normanda: Porque os mitos -como Mig - transcendem os lugares onde nasceram e os próprios países, são universais. Não significando que na universalidade seja ignorado o "génio local" (genius loci). Por isso, o "húmus" da Normandia será sempre a grande referência que nos norteia.

De acordo com a ideia geral o húmus da terra transforma-se (transmuta-se) em moto e no corpo de Mig, por isso a zona das pernas e do tronco devem testemunhar essa metamorfose. Deste modo afastamo-nos do perigo de criar um Biblot decorativo e não uma obra de arte.

O "Mig" tem sido apelidado de "o francês mais rápido da Ilha de Man" graças a uma volta no circuito de Troféu Turístico da Ilha de Man em 18 min 36 s. Para a comunidade de motociclismo francesa, o "Mig" representou o modelo do piloto amador cuja existência é inteiramente dedicada à sua paixão. Morre na 4ª volta da corrida de Superstock no Grande Prémio de Motos de Ulster (Irlanda do Norte)

Estas breves ideias ou linhas de pensamento são apenas (e só) pontos de partida para que cada um possa construir as suas próprias narrativas, tentando descortinar os significados ocultos que só o próprio pode descobrir, sabendo que a obra de arte nunca se apresenta com significados determinados e fixos na origem. Pelo contrário, a verdadeira obra de arte, pelo poder do símbolo, sabe flutuar sempre para lá do conhecimento e das tentativas de descodificação total, abrindo-se indeterminadamente a novas ideias como acontece com a água límpida da fonte que eternamente se renova.
Logo, se a ideia geral do campeão aparece denotada explicitamente, deverá ser considerada a possibilidade simbólica que remete, conotativamente, para a ideia do lutador, que cada um traz dentro de si, postado que está perante o dom da vida, e tendo consciência de que esta exige toda a espécie de argumentos defensivos para poder travar esse combate final, no campo das ideias fronteiriças que interrogam sobre os fundamentos e sobre a essência da Condição Humana: assim contextualizado, o bronze, se por um lado representa Fabrice Miguet ( "o francês mais rápido da Ilha de Man" graças a uma volta no circuito de Troféu Turístico da Ilha de Man em 18 min 36 s, entre outros feitos, Para a comunidade de motociclismo francesa, o "Mig", também representa o modelo do piloto cuja existência é inteiramente dedicada à luta contra os próprios limites.), por outro simboliza o Ser Humano sempre que, no campo livre e perene das ideias, se interroga sobre as suas origens, sobre o significado da própria vida, e sobre o seu destino final. E foi nessa luta que o campeão Mig se transformou num mito. E os mitos, sabemo-lo, são eternos.

Os autores:

Mendanha
Vânia Mendanha
Nuno Mendanha 

30 Abril 2022













 

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