sexta-feira, maio 05, 2023

Escultura Nossa Senhora das Dores 2021 Caldas de São Jorge

O tempo, esse maior pedagogo do mundo, com a sua rectidão de que o caminho prossegue inevitavelmente para o local onde sempre nos esperam, acaba por nos expor sem qualquer preparação às chagas na carne, às chamas e à morte, sentenciando-nos como marca eterna uma existência limitada. Quando sentimos que a mão da sombra, delicadamente, nos dá um pequeno toque no ombro, a vida ilumina-se de uma outra forma e descobrimos capacidades maravilhosas de que nem sequer imaginávamos possíveis. Somos seres do limite onde a morte é, de facto, o deixar de existir, o deixar de estar, é o fim, no entanto não é a finalidade da vida. Por isso, toda a acção para a qual nos sentimos incapazes se nos revela inaceitável, crua e dura. Para se ter um sentido crítico do húmus das grandes coisas é necessária uma Maior alma. Estamos a falar da forma como vemos o mundo e isso está intrinsecamente relacionado com a nossa dimensão. O que importa não é o que vemos mas a forma como o vemos.
A arte manifesta sempre um âmbito simbólico aberto às mais diversas interpretações, não podendo apresentar um sentido unívoco. Por isso, exige a complementaridade estabelecida pela significação pessoal criada pelo fruidor. Onde não pode haver imposições exteriores em detrimento dos discursos ditados pelos poderes da chamada inteligência passional do observador.
Faz parte da condição humana a dicotomia fragilidade/superioridade protetora. A vida, motivo de assombro, agora ainda mais posta à prova pela Pandemia que testa ao máximo a nossa capacidade de resiliência, por vezes, obriga a que se estenda a mão à procura de proteção perante a dificuldade também física e haverá sempre uma outra ajuda (da providência, ou de Deus, ou da instituição social, ou do médico, do padre, da família, do amigo, do companheiro de caminhada…) parecendo a lista não mais acabar. Seja por fé, convicção ou outra razão inexplicável, todos sabemos que o importante é acreditar.
A escultura deve abrir-se, pois, às ideias que cada um quiser dela construir. Logo, mais importante do que as ideias do autor, será o rasto passional que a escultura possa gerar nos outros. Ao libertar-se, por inteiro, das mãos do seu criador, para ganhar uma vida própria que possa ultrapassar os limites impostos pelas conjunturas epigonais determinadas pela época da sua implantação.
Oxalá o bronze e a pedra (da Escultura de Nossa Senhora das Dores) possam suscitar emoções e sentidos polissémicos em cada observador. E, porque a figura feminina pode não ser simplesmente uma figura feminina, ou a pedra pode não ser apenas uma base de pedra, aqui fica o repto para que todos possam e devam fazer as «suas» próprias leituras, porque há sempre uma porta por abrir. Basta, então, que cada um se deixe levar pelas suas emoções, sem influências alheias, porque o encontro com a arte será sempre um encontro pessoal, íntimo e radicalmente singular. Oxalá o bronze (que aporta o barro moldado também por crianças da própria freguesia e que sempre são o progresso da mundo e único garante da longevidade da Humanidade)e a pedra possam ser símbolos de eternidade para todos aqueles( como Domingos Alves de Pinho) que, tanto no passado, como no presente ou no futuro, deixaram ou venham a deixar marcas indeléveis e exemplos superiores de nobreza, generosidade solidária, coragem e despojamento por solo de Caldas de São Jorge.
Sempre em sua proteção e também com a fé da Mãe Celestial, da Nossa Senhora das Dores e com as palavras proferidas vindas do âmago de todas as Mães terrenas (personificadas em Maria) ... onde Debaixo do teu Manto Protetor nos colocamos.
Porque juntos somos mais fortes que o chão. Para a Eternidade, assim como o Sr. Domingos, sem o qual esta Escultura não existiria. Para o professor Doutor Rui Alexandre, Amigo de todos os tempos, um agradecimento muito especial porque sem a sua mediação todo o projeto seria impossível. 













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