sexta-feira, maio 05, 2023

Em memória de ANTÓNIO GUEDES

Iluminado por um céu límpido de Sol de Novembro, quiçá pintado pelos Deuses Antigos ou outra Maior Providência, talvez a homenagear o brilho dos gessos efectuados pelo Mestre na Arte da Escultura, por solo de Olival, foi assim a despedida física de António Guedes. 62 anos dedicados ao processo clássico da passagem de uma escultura em barro para gesso, num corpo estóico de 75 anos que representa valores facilmente identificáveis que subsistirão muito tempo depois da sua partida para a Eternidade: a começar pela entrega total à Estética com Ética e só possível por uma profunda conexão ao solo em que caminhou e que o estruturou, em tempos de opressão, como Ser Humano de maior dimensão, humildade, partilha, consciência política e social, com um olhar no horizonte sempre mais profundo de equidade e justiça sobre o seu semelhante.

Na Escultura, inevitavelmente, o maior combate ontológico será sempre entre luz e sombra, assim como a própria vida em si. Por isso se esculpe com todo o Ser que somos e temos. António Guedes tinha uma capacidade singular de apurar até ao último centímetro de barro, com uma sapiência fora do vulgar, a marca do Escultor. Será, por ventura, o maior técnico Mestre nesta Arte ancestral, em solo Português. De norte a Sul de Portugal, a maioria das esculturas passaram pelo esmero técnico de António.

A Escultura hoje, obedecendo a valores de um tipo de Estética e também a fenómenos sociólogos, está mais distante ou resiliente ao bronze, e o que resta de paixão está apenas nos poucos e talvez cada vez menos que ainda a realizam. Por isso é que relembrar António Guedes é também reavivar os que testemunharam o seu notável talento com o gesso, destacando os seus irmãos, fiéis seguidores, Avelino, Adelino, Fernando, o incansável Amigo Ângelo e os seus genros Nelson Oliveira e Toni Santos; os escultores que consigo trabalharam; os que apenas ouviram contar; os que sabem o que a sua figura significa e os que compreendem que este é também referência incontornável de um tempo que a Escultura não conhecerá nunca mais.
Um forte abraço para a esposa Fernanda Guimarães , outro para a filha Susana Lopes e outro para a netinha Maria João (detentora de um sorriso igual ao do avô). 

Mendanha
Vânia Mendanha
Nuno Mendanha

7 Novembro 2021


Registo do mais antigo Mestre na Arte da passagem do barro para gesso,incontestavelmente, no processo clássico escultórico. Sessenta e dois anos de experiência impõem total respeito. A grande Maioria das esculturas que assolam superfície portuguesa têm a marca e qualidade deste Senhor. Na fisicalidade de mais um simples Escultor, assim como o restante clã Mendanha do ofício, lhe agradecemos, com um forte abraço, por tudo. A Escultura Portuguesa e sua sobrevivência muito lhe deve. Para Sempre.





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